J. Bras. Nefrol. 2000;22(3 suppl. 2):23-6.

Inquérito epidemiológico em unidades de diálise do Brasil

Ricardo Sesso

Em janeiro de 2000, a Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) realizou um levantamento de dados epidemiológicos selecionados em unidades de diálise do país. Todas as 524 unidades de diálise cadastradas no país receberam um formulário contendo questoes sobre pacientes renais crônicos em diálise, em 31 de dezembro de 1999, a respeito do número de pacientes em tratamento, tipo de seguro saúde, características demográficas, modalidades de tratamento, tipo de acesso para diálise e aspectos relacionados à morbidade. Além disso, foram também questionadas as causas de entrada e saída da unidade entre 1 de outubro e 31 de dezembro de 1999. Trezentos e quinze (60%) centros de 24 estados responderam ao questionário, contendo dados sobre 26.440 pacientes. Foram feitas estimativas para todo o país e para regioes geográficas, em relaçao aos diversos itens coletados. Em geral, as estimativas podem apresentar uma variaçao de ±3% em relaçao aos valores reais da populaçao. A seguir descrevemse as principais informaçoes coletadas.

A Figura 1 mostra a distribuiçao dos 47.063 pacientes em diálise em 31 de dezembro de 1999, conforme a regiao: 53% estavam em diálise na regiao sul. A prevalência de pacientes em diálise no país era de 287 por milhao da populaçao (pmp), com uma variaçao de 95 a 362 pacientes/pmp entre as regioes (Figura 2). O SUS reembolsa o procedimento para o tratamento de 96% dos pacientes e apenas 4% têm como fonte pagadora da diálise outras empresas de seguro saúde (Figura 3). A Figura 4 mostra o número de pacientes em diálise por Estado. Em onze Estados há mais de 1.000 pacientes em diálise. O número de pacientes em diálise por regiao e por modalidade terapêutica e a taxa de prevalência de pacientes em diálise é mostrada na Tabela: 64% (n=30.038) dos pacientes faziam diálise nas regioes sudeste e sul; 90% dos pacientes (n=42.355) estavam em hemodiálise e o restante (n=4.708) em diálise peritoneal (continua, automatizada ou intermitente) (Figura 5).


Figura 1 – Distribuiçao dos pacientes em diálise no Brasil, por regiao (N=47.063) (SBN – Dez. 1999)
Figura 2 – Prevalência de pacientes em diálise no Brasil, por regiao (dez. 1999) (SBN)


Figura 3 – Distribuiçao dos pacientes em diálise no Brasil, em relaçao a fonte pagadora (SBN – Dez. 1999)


Figura 4 – Número de pacientes em diálise no Brasil, por estado, dez. 1999


Figura 5 – Distribuiçao dos pacientes em diálise no Brasil de acordo com o tipo de diálise (SBN – Dez. 1999)

A taxa de incidência anual estimada de pacientes novos em diálise em 1999 foi de 101 pmp (n=16.504), variando de 52 pacientes/pmp na regiao norte a 119 pacientes/pmp na regiao sudeste (n=8.316) (Figura 6).


Figura 6 – Taxa de incidência anual de pacientes em diálise no Brasil, por regiao (SBN – 1999)

Cinqüenta e dois porcento dos pacientes em diálise em 1999 eram do sexo masculino (Figura 7). Vinte e seis porcento tinham mais de 60 anos de idade (variaçao por regiao: 21% a 30%) (Figura 8). Estima-se que havia 993 (2,2%) pacientes com menos de 18 anos de idade em diálise no país, sendo somente 297 com idade igual ou menor a 10 anos (Figura 9); 14% das unidades tinham nefrologista pediátrico no serviço.


Figura 7 – Prevalência de pacientes do sexo masculino em diálise no Brasil, por regiao (SBN – Dez. 1999)
Figura 8 – Prevalência de pacientes em diálise com idade maior que 60 anos no Brasil, por regiao (SBN – Dez. 1999)


Figura 9 – Crianças em diálise no Brasil, por faixa etária (SBN – Dez. 1999)

Havia 7.878 (16,7%) pacientes diabéticos em diálise no Brasil, sendo que essa prevalência variou de 11% (regiao nordeste) a 19% (regiao sul) (Figura 10). A prevalência de sorologia positiva para os vírus das hepatites C e B foi de 24% e 5%, respectivamente, sendo as maiores taxas encontradas na regiao sul (Figura 11). Em relaçao ao acesso para hemodiálise, 8% usavam cateter venoso central e apenas 2% tinham uma prótese vascular (Figura 12). Setenta porcento dos pacientes usavam eritropoetina humana recombinante semanalmente (Figura 13). As maiores percentagens de uso dessa medicaçao foram encontradas na regiao nordeste (85%).


Figura 10 – Prevalência de pacientes diabéticos em diálise no Brasil, por regiao (SBN – Dez. 1999)
Figura 11 – Prevalência de sorologia positiva para vírus da hepatite B e C em pacientes em diálise no Brasil, por regiao (SBN – Dez. 1999)


Figura 12 – Porcentagem de pacientes em hemodiálise com acesso venoso por cateter ou prótese, no Brasil, por regiao (SBN – Dez. 1999)


Figura 13 – Pacientes em diálise usando eritropoetina, no Brasil, por regiao (SBN – Dez. 1999)

Em geral, em 1999, o número médio de admissoes hospitalares foi de 0,7 por paciente por ano (Figura 14). Na cidade de Sao Paulo, o número médio de dias de hospitalizaçao foi de 4,8 por ano. A taxa de mortalidade bruta anual de pacientes computada como número de óbitos/pacientes em diálise no meio do período foi de 19,7%. Finalmente, estima-se que o número de pacientes em diálise em fila de espera para transplante renal em 31 de dezembro de 1999 era 20.240 (43% do total de pacientes), estando a maioria deles na regiao sudeste (n=13.361, 53% dos pacientes em diálise na regiao) (Figura 15).


Figura 14 – Número médio de admissoes hospitalares e dias de hospitalizaçao por ano para pacientes em diálise
Figura 15 – Pacientes em diálise aguardando transplante renal no Brasil, por regiao (SBN – Dez. 1999)

Os dados apresentados ajudam a conhecer diversos aspectos do tratamento dialítico no país e suas variaçoes por regiao. Além disso servem para subsidiar decisoes para melhorar a assistência a estes pacientes. É fundamental a criaçao e manutençao em longo prazo de um sistema nacional de registro, análise e divulgaçao de dados epidemiológicos de pacientes com insuficiência renal crônica em fase nao terminal e em tratamento renal substitutivo no país.

AGRADECIMENTOS

Aos centros que enviaram informaçoes e ao trabalho de coleta de dados e digitaçao por. Rosalina Soares, secretária da Sociedade Brasileira de Nefrologia.

Sociedade Brasileira de Nefrologia.

E-mail: rsesso@nefro.epm.br

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